quarta-feira, 1 de maio de 2013

Relato de Parto [ 41 semanas e 4 dias ]


Estava chegando nas 42 semanas e nada de dor, nada de cólica, nada de contração, nada de nada. Já sonhava com o rostinho da Clara quase todos os dias, já estava ficando com medo de passar demais do tempo e minha filha nascer com algum problema respiratório, com medo de não conseguir um parto normal mesmo induzido e precisar de uma cesárea. A idéia da cesárea sempre me perturbou demais, só de imaginar aquela coisa de anestesia na espinha, bisturi, corte na barriga e pontos e mais pontos, eu já ficava com vontade de chorar, além de não ter imaginado isso pra mim, eu sempre quis um parto normal, sempre me imaginei sentindo as dores do parto, sentindo cada contração, indo tomar banho quente para amenizar as dores, fazendo força e parindo... era isso que eu queria mas parecia que estava complicado pois a Clara não tinha sequer encaixado e minha pressão estava sempre alta ( tive hipertensão na gestação) mesmo com os remédios.
Passou das 41 semanas e com 41 semanas e 5 dias eu fui no pré natal mas já fui arrumada para ir pra maternidade depois, não queria nem saber oque a médica diria, eu iria pra maternidade assim mesmo, não podia esperar mais, não queria passar mais uma noite grávida. Chegando na consulta para ver a evolução, tudo na mesma... 1cm de dilatação e nada da Clara encaixar, e quando a minha GO foi verificar minha pressão, estava 140 x 120, ela quase surtou pois estavam quase encostando uma na outra e fez um encaminhamento para o hospital da mulher de São João de Meriti, perto da minha casa ( era lá mesmo que eu queria ir). Saí do consultório de fui, meio nervosa com a pressão mas feliz de estar indo pra maternidade. Estava eu, Robério e minha mãe, com o carro que pegamos emprestado da minha tia Jô.  Chegamos no hospital ás 16h, fizemos a ficha e fui passar em uma parte para ser consultada, minha pressão foi verificada e estava a mesma coisa, me mandaram para uma consulta com uma médica, ás 17h ela me atendeu e estava com 2 cm de dilatação e nada de trabalho de parto. A médica pediu que eu aguardasse que seria feito uma ultra para saber o estado do bebê. Hospital público é uma coisa, estava cheio e então nada foi muito rápido. Fui para a parte da Ultra e fiquei aguardando, nervosa pois não tinha como informar ao Robério oque eu estava fazendo e nem a minha mãe, pois o bendito sinal da tim não pegava lá dentro do hospital. Ás 18:40 eu fiz a ultra e estava tudo ótimo com o bebê, apenas minha pressão alta mesmo. Fui encaminhada de volta a sala de preparo e aí  tive certeza de que ficaria internada aquela noite. Procuraram minha veia e deixaram um acesso ali, a enfermeira tinha uma péssima mão pra isso e quase me arrancou a veia,rs. Logo depois minha mãe entrou lá e perguntou se eu ficaria, disse que sim e ali ela ficou um tempo. Me deram o bendito roupão e pediram que retirasse a roupa e todos os brincos e piercings que tenho. Coloquei a roupa e minha mãe saiu da sala, o Robério chegou e parecia super abatido e nervoso, conversamos um tempo e ele me acalmou dizendo que estaria ali o tempo todo ao meu lado. Ali mesmo já me chamaram para subir... dei um beijo no Robério, sentei na cadeira e eles me levaram para a sala do pré-parto. Cheguei lá e me acomodaram no primeiro leito, fiquei pensando na vida, em tudo que vivi até chegar ali, nas coisas que comi na gravidez, nos enjoos, nas azias, dores na coluna, má posição para dormir, no sexo feito de ladinho, nas inúmeras recomendações que comer ou deixar de comer, no Robério e toda sua atenção comigo e sua preocupação também! Quando foi umas 21h o médico veio, se apresentou e explicou que começaria a fazer a indução do parto, que seria feito com comprimidos que eram
colocados próximo ao colo do útero, que o processo poderia demorar 24h e os comprimidos eram colocados de 8/8h, algumas mulheres já sentiam as contrações com apenas 1 comprimido outras precisavam de 5 a 6 para começarem a sentir as dores. Era um pouco doloroso quando eles colocavam esse comprimido.
As horas foram pessando e nada de dor, só ouvia as mulheres ao lado gemendo, gritando, xingando, pedindo cesárea no auge da dor e implorando para ir embora,rs. Achei engraçado as coisas que ouvia e depois de cada grito desesperado de dor, ouvia as mulheres sendo levadas para a sala de parto e logo em seguida ouvia o choro do bebê....
As horas foram passando e quando foi 5h da manhã, mais um comprimido foi introduzido em mim... 30 minutos depois comecei a sentir umas cólicas, tipo cólicas de menstruação, nada de 
mais... Algum tempo passou e comecei a pensar no meu amor, lá embaixo com minha mãe, sem saber oque seria de mim, sem saber de nada... como eles estariam?
Logo depois chegou mais uma maca com uma menina ( Kelly ) e a colocaram ao meu lado, no mesmo box mas em uma maca ao lado da minha cama. Já chegou com contrações e chegou 
bem no momento em que eu estava chorando, chorando de medo de estar sozinha ali, medo de passar aqueles momentos sozinha e medo de parir e só poder avisar depois, medo que algo desse errado. A mãe da Kelly foi até lá com ela e perguntou meu nome, disse umas palavras de Deus para mim e disse que meu esposo estava lá em baixo me esperando. Aquilo me aliviou bastante, pois eu pensei que estava sozinha e que eles não tinham notícias de mim. A Kelly foi uma companheira pra mim, ela sentia minha dor e eu sentia a dor dela, acho acabamos nos ajudando um pouco. Logo depois veio a médica para troca de plantão e disse que meu marido ligava de 5 em 5 minutos pra saber como eu estava. :) Nossa! Nem acreditei pois não imaginava que o Robério faria isso por mim.
O tempo foi passando e as dores foram aumentando. Senti vontade de fazer cocô e fui, só me dei conta que estava com contrações, quando fui tomar um banho e senti uma pressão enorme na barriga, como se algo me puxasse para baixo... é uma dor que não te deixa andar, te dá vontade de abaixar e se encolher toda. Me arrumei rapidinho, e quando coloquei a fralda que tinha que usar, vi um pouco de sangue...pensei: Está tudo dando certo!
Voltei para a minha cama, comi e ali as dores aumentaram muito, não tinha reação a cada contração, é uma dor que dá, que você não tem oque fazer, você sente necessidade de aliviar a dor mas não tem como. A forma que encontrei foi me ''balançar'' na cama,rs. Quando eu empurrava o colchão com o pé, eu ficava aliviada, queria me mexer, queria fazer aquela dor passar mas não conseguia.
As horas foram passando e minha mãe foi me visitar, entrou bem na hora de uma contração, mal consegui falar com ela. E quando a dor passou, perguntei quem foi o vencedor do BBB13,rsrsrs. Não queria que ela me visse daquele jeito, queria tranquiliza-la mas não conseguia, a dor é forte ao ponto de você não pensar mais em nada e apenas querer que ela passe. Senti que ela me olhava e sentia a dor que eu sentia, ela podia imaginar como eu estava, ela podia ver que a dor era grande... ela foi conversar com a enfermeira swobre algo que a assistente social achou útil ela comunicar mas ao ouvir que a enfermeira disse que eu poderia ficar em trabalho de parto por até 3 dias, até eu fiquei com medo, impossível sentir aquilo por 3 dias, confesso que bateu o medo em mim. Minha mãe foi se despedir e chorou pois eu novamente estava com outra contração e estava naquele esquema de me balançar na cama com os pés, era meu conforto... Acho que ela também estava com medo de como eu passaria o dia assim e me perguntou: '' Filha, por que você não quis uma cesárea?'' HUAhAHu Tadinha, eu entendi oque ela estava pensando mas não era o momento para falar aquilo pra mim,rsrsrs.
Passaram mais alguns minutos, a médica veio me examinar e estava com 5 cm de dilatação! \o/
NooOoOoossa! que alívio ouvir aquilo. Fiquei mega feliz de saber que ia conseguir parir do jeito que eu imaginei.
A  dor realmente é intensa, mas sabia que seria assim e sabia que quanto mais dilatação, mais dor e mais próximo de conhecer a minha Clara eu estava.
Robério entrou pra me visitar, lindo como sempre, com cheiro de cigarro eu percebi o quanto estava nervoso, e pela pele abatida eu vi que talvez nem tivesse dormido direito. Ele chegou num momento bom, não estava com dor e consegui falar com ele direito. Ele me deu um beijo, fez carinho na minha testa e perguntou como eu estava. Já estava sentada quando ele chegou pois descobri que sentada a dor era menor e era muito mais fácil suportar cada contração que vinha. Ele viu minha bandeja com a comida ao meu lado e me pediu que comesse, mas como comer? Quando dava uma garfada vinha uma contração e nem conseguia engolir direito, tinha fome mas não conseguia comer. Acho que nesse momento a contração estava de 5 em 5 minutos, talvez com duração de 1 minuto... não sei... não tinha relógio e nem celular por perto, me perdi no tempo.
A enfermeira perguntou se ele assistiria o parto e ele disse que sim, então ela disse que ele podia ficar no corredor e me olhar de vez em quando, só para não ficar preocupado.
Só de saber que ele estava ali, praticamente ao lado, já fiquei aliviada... não me sentia mais sozinha, ele me passava força mesmo sem saber.
Parece que as contrações aliviaram um pouco e já não sentia aquela dor intensa, sentia dor sim, mas apenas balançar as pernas me aliviava.
Senti uma grande vontade de ir ao banheiro e assim fiz.... fiz cocô e tomei um banho em seguida.. Nossa! Parecia que ia ficar ali, estirada no chão, pois quando a água caia na barriga, a Clara se mexia tanto mas tanto que parecia que ia sair ali mesmo, no banheiro.A enfermeira foi atrás de mim e disse que não podia estar tomando banho pois já estava quase na hora do meu parto e era perigoso mas informei que queria aliviar a dor. Saí, coloquei a fralda,rs e caminhei para minha cama, quando cheguei a Kelly não estava mais lá, tinham colocado ela em outro box. Logo chegou um lanche e já não sentia mais fome, o problema é que as enfermeiras ficavam vigiando e pedindo que todas comessem para terem força na hora do parto, mas quem conseguia comer assim? Quem pensava em comer sentindo aquela dor? Cruz credo! Confesso que até tentei, fiz um esforço mas mal conseguia engolir, eu queria me concentrar na dor, queria ''curtir'' cada contração, pois tinha lido muitos relatos que diziam que é um momento único e que se você não ficar calma e controlada ( até onde for possível ) você acaba não conseguindo fazer as coisas no tempo certo. 
Logo a médica veio novamente e disse que daria um remédio para acelerar o processo e me ajudar, ela enfiou uma seringa no acesso que já tinha no braço, disse o nome do medicamento ( que eu não lembro ) e disse que logo minha filha estaria comigo. Nossa! Sentia aquele líquido gelado entrando em mim e em questão de 15 minutos eu comecei a sentir dor mais e mais intensa. Já não conseguia segurar a voz e a cada dor era um gemido. A médica veio novamente me examinar e pronto! 7 cm de dilatação!!!! Nossa!! Quando ela disse isso eu não acreditei, parecia que toda dor que tinha sentido até ali era nada e eu achava que demoraria mais 1 dia para Clara nascer. 
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Ela disse: '' Thalita, agora é só fazer força a cada contração, já estou vendo a 
cabeça dela.''
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Como assim?!?! Ela estava vendo a cabeça?!?!? Não acreditei que estava tão perto...
Pediu que eu permanecesse deitada e que dobrasse uma perna na cama e a outra no alto, segurando com a mão e fizesse força, como se eu estivesse abaixada. Ela saiu pra ver a Kelly, que estava juntinho comigo e também estava perto de nascer. Fechou a cortina e aí eu pensei: Agora é comigo! Chegou a hora de parir, chegou a hora de fazer a força que eu tanto vi outras mulheres fazendo em vídeos.
Na primeira força que eu fiz eu peidei, nossa! Que vergonha, confesso que deu vontade de parar, mas naquela altura do campeonato Clara tinha que nascer, Clara tinha que vir e não era momento de ter vergonha... novamente uma dor e PIMBA!!! Dei um grito e comecei a sentir a Clara empurrando... é algo muito louco pois mesmo que eu não quisesse fazer força, a força vem e me obrigava a empurrar... sempre pensava: '' Força de cocô... força pra baixo... inspira e solta pela boca... cheira flor e assopra vela...''
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Aí veio a médica me ver e disse: '' Muito bem, Thalita! Continua assim... FORÇA!!''Aí eu fiz uma força... depois força de novo! E a médica chamou as enfermeiras e disse: ''Thalita, segura que a Clara está nascendo''
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Porra, pode isso Arnaldo? Como eu vou segurar nessa altura do campeonato?? 
Chegaram as enfermeiras e veio a pior parte, passar da cama pra maca. Que dor!!!
Na hora que me colocaram na maca eu disse: '' Chama meu marido Robério o nome dele''
Me levaram pra sala de parto e na maca mesmo a Clara e! Empurrava e eu gritava, era incontrolável...
Mais uma dor forte! Passar da maca pra cadeira de parto... quando sentei na cadeira de parto pensei: '' Agora chegou a hora, agora é a minha vez de fazer força e ver minha filha.''
Robério entrou com máscara, gorro, roupa... como assim? Tão rápido!
Lembro que ele colocou a mão na minha testa, que estava suada e olhou pra mim com os olhos mais confiantes que eu poderia ver...
Segurei nas alças que tem embaixo, coloquei o queixo no peito como a médica pediu e fiz força.
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A médica disse: '' Muito bem Thalita, faz força de novo''
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E eu fiz outra força mas essa altura eu já não tinha vontade de fazer força, eu fazia força pra Clara sair, fazia pra ela nascer mas não sentia vontade de fazer.
Sentia apenas a pressão de algo saindo... era como se tivesse uma bola de baseball pra arrancar de mim. A segunda força foi falsa, eu fiz força na garganta e não força de cocô, aí a médica disse: Não é força em cima, é força embaixo, como você estava fazendo antes.
Respirei e fiz mais uma força e ela disse: '' Só mais uma, só mais uma.''
Na outra força, ficou um silêncio e senti Clara saindo como se fosse uma gosma... escorregou e logo percebi que era o corpinho dela. Quando colocaram Clara em cima de mim, tão rosa, tão bochechuda, tão linda, olhei pro Robério e ele chorou.
Nossa! Que emoção, que alegria! Que sentimento mais lindo  mais puro e mais maravilhoso que alguém podia sentir...
Eu consegui! Depois de tanta dor, de tanta demora e de tanto medo a Clara nasceu! E é a mais linda do mundo todo.
Enquanto colocaram ela pra pesar e medir seus olhinhos viam em nossa direção e todo mundo comentava que bebê tão branca, tão linda!
Nesse momento passou muita coisa na minha cabeça e a partir daquele momento minha vida mudou!
Eu deixei de ser grávida e me tornei mãe de vez.
Nesse momento eu pude ver aquele ser que carreguei em meu ventre por todo aquele tempo.
Pude ver o resultado do nosso amor.Nossa Clara nasceu!

Data: 27/03/2013
Pesando: 3494 Kg
Medindo: 52 cm


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